segunda-feira, 23 de março de 2009

OS FURA-FILA


Poucas coisas me chocam mais do que o espertinho que fura a fila.
Antes de desenvolver o assunto, quero deixar claro: meu parâmetro são as pessoas normais, daquelas das quais se esperam atitudes condizentes com a sua intenção de conviver civilizadamente em sociedade. Excluo, portanto, os psicopatas, os loucos e os maus mesmo.
Retomando. Você está há horas (na verdade, são alguns minutos, mas o tempo é desproporcionalmente grande quando se está dentro no trânsito) aguardando, em fila única, a sua vez de fazer uma conversão à esquerda. Você está na fila, mas fica olhando pelo retrovisor, porque você sabe que algum metido a esperto vai surgir do nada, tirar um fininho do seu carro e embicar na sua frente. Parece até que ele passou rindo alto (pode até ser coisa da sua cabeça, mas é a sensação que dá).
Ou você foi à padaria e aguarda calado naquele calor ao lado do forno pela sua hora de ser atendido. E a perua sem noção chega falando no celular, fingindo que não te viu e vai logo pedindo 38 pães, 4 quilos de mussarela, 321 gramas (exatas) de peito de peru e tudo o mais que vê pela frente... Furona e sem noção!
Na prática, pode até não mudar muita coisa na sua vida. Serão apenas 8 minutos perdidos, talvez. Mas a sensação de frustração e raiva é enorme, você se sente pequeno e tolo – apesar de ser muito maior em hombridade do que aquela criatura.
O gesto pode ser pequeno mesmo, mas o furão representa aquela nesga de mau caminho, aquele ranço da falta de cultura que, se multiplicada, toma conta do mundo e acaba com as boas maneiras, com a civilidade, e com o último suspiro de paciência que nos resta no final do dia. É uma brecha que, se a gente não se esforçar pra fechar, se rompe e traz uma série de "escorregadas" socialmente inadequadas de tabela, num efeito cascata de condutas reprováveis (misconduct - ou mau comportamento - seria um bom termo). Não preciso dizer onde isso vai acabar: no Senado federal, onde, certamente, a grande maioria vai te passar pra trás...
É esse o simbolismo do furão: ele passa os outros pra trás (no caso da fila, literalmente).
Eu detesto o espertinho, mas tenhamos esperança. Lendo a entrevista da Bel Kutner na última Marie Claire, descobri o porquê. Ela conta que seu pai, o ator Paulo José (que, aparentemente, é uma pessoa com o coração de ouro) sempre lhe disse: “Mil vezes ser bobo do que ser esperto”.
É, afinal, a maioria ainda respeita a fila - símbolo óbvio do respeito à vida em sociedade.

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