segunda-feira, 2 de março de 2009

O RONCO DA DISCÓRDIA


O que pode ser mais irritante que o ronco? Não o ronco da sua vó, do seu pai, nem mesmo do seu vizinho. Estou falando do ronco do seu namorado. Nem o do cachorro gordo e babento tem tamanha capacidade de irritar.
Não é apenas o barulho – que, por si só, já é quase grotesco -, mas o contexto que o cerca. Em geral, o ronco do namorado é antecedido por uma noite mal dormida. Obviamente, você não fez parte dessa noite, porque senão vocês teriam dormido cedo e ele estaria descansado. Não. Ele virou a noite (não sei como, coitado, ele está sempre tão esgotado com o trabalho!) jogando e bebendo. Bebendo muito. Bebendo de uma forma incompatível com a quantidade de vezes que ele reclama porque você está passando do número de taças de champagne que ele supõe adequado (momento em que você quase o confunde com um monge tibetano abstêmio – não falei em padre porque até estes bebem vinho).
Evidentemente, tanta bebida só tem um tipo de acompanhamento (além dos aperitivos gordurosos que foram ingeridos junto): os amigos do peito. Nenhuma excitação (eeeeei!, sem interpretações maliciosas!) é tão grande quanto à felicidade de encontrar os amiguinhos (mais um pouco, você consegue quase vislumbrar um rabinho abanando nas suas costas...)
O ronco aumenta gradativamente, num crescente que dá a sensação de que um alien vai ser expelido para fora do estômago (eca!). E como se não bastasse ter que usar travesseiros a prova de som para vedar os ouvidos, de repente você sente aquele corpanzil despencando por cima de você – e, pior, sem intenção de coisa alguma – braços pra um lado, pernas abertas, esticadas, ocupando cada pequeno centímetro da cama. Você, que já está craque na arte de se contorcer e caber num pequeno espaço entre o queixo dele e o dedão do pé (não me pergunte como, mas a prática é algo que leva à perfeição), se acomoda, finalmente.
Aí ele acorda pra ir ao banheiro (afinal, foram 20 litros de chopp), o que vai acontecer, pelo menos, mais um 4 vezes nas próximas 3 horas que ainda restam para dormir (você já passou as outras 5 apenas tentando).
Até que, enfim, você descobre um cantinho debaixo do braço dele, se aninha, e se vê olhando pra aquele rostinho de anjo (anjo???) lindo e sereno (mas de boca aberta, é verdade).
Acredite, agora quem baba é você, darling! Ou alguém duvida do gênio que disse que a raiva é o sentimento mais próximo do amor?

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