terça-feira, 26 de maio de 2009

POESIA POSSÍVEL



Há muito tempo, eu tinha um caderno de frases e poesias. Não minhas, é claro, porque não tenho talento pra isso. Eram pensamentos e inspirações que eu 'catava" por aí, registrava no meu caderninho e relia, volta e meia, quando sentia necessidade de alimentar a alma.
Uma vez, li uma frase do Carlos DRummond de Andrade numa mesa de um bar em Fortaleza:
"Carlos, relaxe. O amor é isso mesmo que você está vendo: Hoje beija, amanhã não beija e segunda-feira ninguém sabe o que será".
Eu tinha 20 anos. Profundamente inspirador.
Sempre gostei dessas frases mais engraçadinhas, meio que brincando com as palavras, fazendo delas pequenas ironias doces que tornam muito mais bem humorada a perspectiva da realidade.
Um dos meus preferidos é do Manuel Bandeira, "porquinho da ïndia". E não venha me dizer que acha bobo. Leia com atenção e me diga se não é uma das interpretações mais sensíveis (e cruelmente verdadeiras) de uma relação não muito bem correspondida...
"Quando eu tinha seis anos
Ganhei um porquinho-da-índia.
Que dor de coração me dava
Porque o bichinho só queria estar debaixo do fogão!
Levava ele prá sala
Pra os lugares mais bonitos mais limpinhos
Ele não gostava:
Queria era estar debaixo do fogão.
Não fazia caso nenhum das minhas ternurinhas . . .
— O meu porquinho-da-índia foi minha primeira namorada"

Ás vezes eu me sinto o dono do porquinho da índia...
Se você anda com alguma dúvida seríssima apertando o peito, pode encontrar consolo em Lupícinio Rodrigues:
"...E por isso vivemos brigando
Toda a vida, eu e o meu coração
Ele dizendo que sim
Eu dizendo que não
". Essa é do Bar do Nito.
E quando o mundo é lhe é injusto?
"Todos estes que aí estão
Atravancando o meu caminho,
Eles passarão.
Eu passarinho!"

Com Mário Quintana, nossa alma sempre pode se tornar mais leve. Não é que fuciona?
É bom se arriscar e ler poesia de vez em quando, sem se preocupar em ser saber do que se está falando. Eu não entendo lhufas de nada disso. Afinal, como diria Quintana, "A poesia não se entrega a quem a define". Ou, na verdade (e melhor ainda), "Um bom poema é aquele que nos dá a impressão
de que está lendo a gente ... e não a gente a
ele!"
Talvez porque a poesia não esteja propriamente nas palavras, mas na intenção de quem a lê.
Obs: Pro dia que você estiver realmente precisando pirar, não esqueça de João Gilberto:
" - Olha o vento descabelando as árvores!...
- Mas as árvores não têm cabelo, João
- São as pessoas que não têm poesia" (diálogo entre uma "funcionária" e o João Gilberto, acredite se quiser, conforme narra o livro "Chega de Saudade").

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